Chance de cura de Lula é muito grande, dizem médicos

São Paulo - O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva será submetido nesta segunda-feira (31) à primeira sessão de quimioterapia contra um tumor na laringe. O repórter José Roberto Burnier, da TV Globo, conversou com Roberto Kalil Filho, médico particular de Lula há mais de 20 anos e coordenador da equipe médica que o acompanha.

Kalil Filho disse acreditar que a chance de cura do ex-presidente é muito grande.

O senhor esteve neste domingo com o ex-presidente. Como ele está?

Ele está tranquilo, confiante. Evidentemente que, por orientação médica, está falando menos, para poupar as cordas vocais.

Ele está muito rouco?

Ele está mais rouco porque fui submetido a exames ontem, e isso causa um processo inflamatório e está um pouquinho mais rouco.

Ele sente dor?

Ele não sente dor, está tranquilo, ciente do diagnóstico, das etapas de tratamento.

Como o presidente recebeu a notícia?

Não digo que se recebe bem uma notícia dessa. Recebeu otimista, com força.

Conversando com ele hoje , quando ele entrou no hospital, ele fez questão que o hospitsal lançasse um boletim médico e, por determinação dele, eu conversei com a imprensa.

O senhor diria que o tumor dele foi descoberto no início?

Não dá para dizer que foi descoberto no início nem muito avançado. É um tumor localizado, que os oncologistas acham que a resposta à quimioterapia vai ser muito boa. Do ponto de vista clínico, ele é uma pessoa extremamente estável e saudável que, pontualmente, foi descoberto um tumor de laringe e que terá de ser submetido a um tratamento mais agressivo.

Quais são os efeitos colaterais que normalmente acometem um paciente que passa por esse tipo de tratamento?

Esse tipo de quimioterápico causa efeitos gastrointestinais, como diarreia, enjoo, queda da imunidade, um tipo de fraqueza, queda de cabelo, ou seja, dos pelos. É bem provável que ocorra até o final da quimioterapia. Evidentemente, depois recupera.

Quanto tempo vai ficar recebendo medicação ?

Depende da evolução dos efeitos colaterais, que talvez tenham ou não.

Eu sei que, no aniversário, ele comentou com o senhor, e o senhor o convenceu a vir aqui fazer o exame. A gente sabe que o presidente Lula não é muito afeito a hospital, ele não gosta muito, não gosta de fazer exames. Foi difícil convecê-lo a fazer o exame?

Não. Ninguém gosta de fazer exame, ninguém gosta de ficar em hospital. Mas, desde o momento em que nós conversamos na quinta à noite e que ele queria postergar a avaliação dele até para o ano que vem, a própria dona Marisa insistiu: ‘Olha, você está com esse problema há 40 dias, então, vamos fazer os exames’. E ele veio no dia seguinte. Essa doença surgiu nos últimos meses, quiçá, no último ano... imperceptível.

É assintomática?

É assintomática até que ele começou com esses sintomas da corda vocal há 40 dias, que sejam dois meses.

O senhor comunicou a presidente Dilma sobre a doença dele...

Ele pediu que comunicasse.

Como a presidente reagiu?

Como qualquer pessoa querida...reagiu com apreensão. Primeiro momento foi de choque.

O presidente Lula fumou ou ainda fuma?

Ele parou de fumar há um ano. Mas, como vocês sabem, ele era um fumante.

Mas ele não tem problema hereditário, nesse caso?

Ele teve um irmão com o mesmo problema, com tumor semelhante na laringe, se não me engano. Não sei detalhes do caso, mas ele teve um irmão com esse tipo de problema.

Qual é a possibilidade, em tese, de cura do presidente Lula desse tumor?

Se falar em cura, segundo os oncologistas, eles são extremamente otimistas em relação ao tratamento proposto: quimioterapia seguida de radioterapia. Então, há uma grande chance da cura, segundo os oncologistas, em torno de 80%

De chance de cura? De cura total?

É. O que é bastante bom.

Tratamento

Na segunda feira, os médicos vão instalar do lado direito do peito de Lula um catéter chamado de Portocath, um caninho de 10 centímetros de comprimento, ligado diretamente na veia subclávia. Assim, o medicamente entra na corrente sanguínea. Como o tratamento é intensivo, ele vai para casa com uma bolsa de infusão presa na cintura que vai continuar injetando o quimioterápico por cinco dias.

Lula vai receber um coquetel com três medicamentos. A ação da quimioterapia é semelhante ao tratamento de qualquer tipo de câncer. O medicamento age para tentar interromper a multiplicação desordenada das células.

Um tumor se forma quando, por algum motivo, um grupo de células começa a se dividir de forma acelerada. O problema é que esse tratamento não é seletivo, não atuando só sobre as células doentes. Ele ataca também as células sadias. As que sofrem mais com a ação da quimioterapia são as que se renovam mais rapidamente, como as responsáveis pelo crescimento de pelos e cabelos, e pela renovação da pele e pelo sistema de defesa do organismo. Por isso, durante esse tratamento, o cabelo cai, a pele descama e o sistema imunológico é afetado.


Câncer de laringe (Foto: Editoria de arte/G1)