Dilma Rousseff corrige herança do governo Lula


 Presidenta descumpre promessas de campanha e, perto de completar 100 dias no poder, mostra estilo diferente das gestões anteriores.

Dilma Rousseff durante a posse presidencial.
 
O capital político ainda intacto, a folgada maioria parlamentar e um estilo firme na condução da máquina deram a presidente Dilma Rousseff, nesses primeiros cem dias a serem completados no próximo domingo, a segurança para tentar fazer um governo diferente, com marca própria. Mas não muito diferente.

Repetiu vícios de seus antecessores ao nomear políticos para cargos técnicos e passou por cima de promessas feitas na campanha eleitoral, como a de que não faria um ajuste fiscal.

Por outro lado, surpreendeu por conseguir aliviar as tensões políticas e ampliar a base de apoio no Congresso, ao mesmo tempo em que enfrentou e desmontou lobbies de parlamentares e sindicalistas, como o do salário mínimo maior.Na economia, há a avaliação positiva de que a presidente deu provas de que se concentra em reduzir gastos públicos e conter a inflação, fazendo um corte forte no Orçamento, de R$ 50 bilhões. 

Na política externa, fez gestos e ações que indicam correção de rumo, especialmente no que diz respeito aos direitos humanos e ao Irã, aproximando-se mais dos Estados Unidos. 

No campo social, ainda não lançou seu grandioso programa de erradicação da miséria mas promoveu medidas setoriais. 

O comportamento discreto e o perfil técnico respaldam o discurso da oposição no início de governo, que tem sido favorável, com poucas ressalvas. 

Sinais visíveis desta distensão foram os dois encontros que teve com o ex-presidente Fernando Henrique, um deles no almoço para o presidente americano, Barack Obama.

"Na campanha, ela não disse que faria concessão nos aeroportos, não queria levar o carimbo de privatista. Também negou ajuste fiscal. 

Agora, o corte atinge até concursos públicos, medida que era atribuída, na campanha eleitoral, ao tucano José Serra. O discurso de campanha é bem diferente do exercício de governo", diz o cientista político David Fleischer, da UnB. 

"Nesses primeiros cem dias, Dilma leva vantagem em relação aos antecessores. Fazer uma comparação com o início do governo Lula é desleal. 

A situação econômica agora é muito mais tranquila. Além disso, Dilma tem uma base governista bem mais ampla, contra uma oposição menor e desorganizada. O grande desafio será lidar com os aliados, inclusive PT e PMDB".

Para o PT, apesar de insatisfações de setores do partido, o balanço é positivo. O líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE), diz que a presidente correspondeu à expectativa gerencial e surpreendeu no lado político.
 
"O que o governo fez foi uma consolidação fiscal. Os ajustes tradicionais são aqueles em que passam uma régua linear. O nosso tem cortes, mas ao mesmo tempo a ampliação do Bolsa Família. O cancelamento de concursos, por exemplo, é uma medida temporária", defende o petista.

A oposição reconhece diferenças positivas no governo Dilma em relação à gestão de Lula, mas também aponta falhas.
 
"Neste primeiro momento, Dilma age com objetivo de conquistar eleitores que não votaram nela: esse movimento ocorre com mudanças na política externa, no controle de despesas e gastos, e na defesa da imprensa livre. 

Tenta corrigir os pontos vulneráveis da campanha e do governo Lula", diz Sérgio Guerra, presidente do PSDB, pondo em dúvida medidas do governo para conter a inflação. 

 Fonte/www.oglobo.com.br