66% dos adolescentes infratores são viciados, segundo pesquisa

Em São Luís, pelo menos 66% dos jovens em conflito com a lei são viciados em entorpecentes.

66% dos adolescentes infratores são viciados, segundo pesquisa
SÃO LUÍS - Estudo feito pela professora Selma Marques, do departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), revela que pelo menos 66% dos jovens em conflito com a lei em São Luís são viciados em drogas consideradas pesadas como crack, merla ou cocaína. 

A pesquisa também levanta uma possibilidade perigosa: a de que os jovens em conflito com a lei mantenham o vício dentro das unidades de ressocialização da Fundação da Criança e do Adolescente (Funac). A direção da instituição, no entanto, nega essa possibilidade.

O estudo foi realizado com 125 jovens de 14 a 18 anos, entre os anos de 2006 e 2009, que cumprem medidas socioeducativas no Centro de Juventude Esperança (CJE), Nova Jerusalém e na unidade da Funac do Vinhais. 

Esse levantamento fez parte da dissertação de doutorado do curso de Políticas Públicas da professora da UFMA. Os dados foram apresentados em março do ano passado e seguem agora para a publicação pela editora da universidade.

Segundo o levantamento da professora, dos 125 jovens entrevistados nesse período, 31% deles afirmaram que eram viciados em merla; outros 18% em crack e 17% em cocaína. 

Os dados surpreendem por dois motivos: pelo grande número de jovens viciados em drogas pesadas e com uma idade cada vez menor e também pela ligação de alguns deles com a cocaína, substância cara e, em tese, de difícil acesso aos jovens com menos condições financeiras. 

Esse alto índice de uso da cocaína, para Selma Marques, é um dos dados mais preocupantes da pesquisa porque mostra que muitos jovens hoje têm ligação direta com narcotraficantes. 

Muitas vezes, pagos com a cocaína por serviços ligados ao tráfico de drogas, como o processo de distribuição. 

"No Brasil, a média de uso de cocaína por adolescentes em conflito com a lei chega a 0,7%. Em São Luís, estamos bem acima disso", contou a professora.

A situação é grave. De acordo com a professora, esses números podem ser ainda maiores e comprovam uma associação perigosa: a criminalidade com o uso de drogas. "A gente suspeita porque eles têm medo de falar. Eles sabem que se admitirem um vício como esse podem ter sua medida socioeducativa prorrogada pelo Poder Judiciário", disse. 

"Os jovens procuram alternativas para sustentar o vício. O organismo do adolescente, com o uso dessas drogas, praticamente anulam o efeito da serotonina, pela alta produção da dopamina. 

Assim, ele fica sem controle e sem autocensura. O resultado é um envolvimento direto com crimes e com uma frieza impressionante", descreveu a professora.

Ainda conforme o estudo, quase todos os adolescentes começaram a usar drogas pesadas com pouca idade, de 8 a 9 anos. Começando com substâncias mais leves como álcool e cigarro. Muitos deles por influência da própria família. 

Aos poucos são apresentados a drogas mais pesadas como maconha até chegar ao crack, merla e cocaína. "A família é a principal indutora desse processo", relatou Selma Marques.

A professora também contesta hoje algumas medidas de combate ao tráfico de drogas no Brasil. Uma delas é o tratamento do viciado como "bandido". 

Além disso, a professora também questiona a prisão de pequenos traficantes e não dos fornecedores do grande volume de drogas. "Hoje, se prioriza o combate do final da cadeia produtiva da droga e não do início dessa cadeia produtiva. É necessário acabar com esse elo", defendeu.