Brasil precisa de R$ 70 bi para garantir abastecimento de água até 2025



O governo brasileiro festejou há poucos dias o salto de 7,5% do Produto Interno Bruto (PIB) de 2010. 

Esse bom desempenho econômico elevou o país ao sétimo lugar entre as maiores economias do mundo. 

Entretanto, ainda permanece no triste ranking das 10 nações com o pior sistema de saneamento do planeta, algo que não condiz com a realidade de um Estado que pretende se igualar às maiores potências mundiais.

A costureira Andréia de Sá armazena água em garrafas porque não tem reservatório em sua casa, em Ceilândia  (Rafael Ohana/CB/D.A Press)
A costureira Andréia de Sá armazena água em garrafas porque não tem reservatório em sua casa, em Ceilândia
Apesar de o Brasil ter 12% de toda a água doce da Terra, o país ainda precisa investir R$ 70 bilhões para garantir o abastecimento do insumo até 2025. 

Desse valor, R$ 47,8 bilhões correspondem a recursos para o tratamento de esgoto e o restante, em infraestrutura — sem incluir os gastos com a distribuição. 

Essas informações constam do Atlas Brasil, documento que será divulgado hoje, Dia Mundial da Água, pela Agência Nacional de Águas (ANA).

O Sudeste, por ser mais populoso, demanda maior volume de investimentos em infraestrutura. 


Na Região Integrada de Desenvolvimento do Distrito Federal e Entorno (Ride-DF), são necessários R$ 861,8 milhões.

“Os investimentos são necessários para não comprometer o fornecimento de água, e o Atlas será uma ferramenta para a sociedade cobrar as autoridades”, comenta o superintendente adjunto de Planejamento de Recursos Hídricos da ANA, Sérgio Ayrimoraes Soares.

Especialistas do setor, no entanto, falam em cifras bem maiores em saneamento para atender os 53% da população brasileira ainda sem esgoto tratado. Esse montante oscila entre R$ 120 bilhões e R$ 270 bilhões.


“No ritmo atual, o país levará 60 anos para zerar esse deficit”, aponta o presidente do Instituto Trata Brasil, Édison Carlos. 

“O Brasil ainda está no nono lugar do ranking da vergonha, com 13 milhões de pessoas sem ter onde fazer suas necessidades”, alerta.

O coordenador do Projeto Água da WWF Brasil, Samuel Barreto, lembra que o ritmo dos investimentos do governo brasileiro está aquém do necessário para melhorar a qualidade de vida dos cidadãos e reduzir o índice de mortes de doenças provocadas por água contaminada. 


“Cada dólar investido em saneamento significa uma economia quatro vezes maior em saúde”, destaca.

PAC desacelera
O Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) está com o freio de mão puxado para os investimentos em saneamento.


Dos R$ 40 bilhões previstos no PAC 1, menos da metade foi executada. Já o PAC 2, que prevê mais R$ 21,2 bilhões, sequer decolou.

No DF, há duas obras do PAC paradas, segundo dados do Trata Brasil: uma em Samambaia e outra nos condomínios Pôr do Sol e Sol Nascente, em Ceilândia.


Nas chácaras em Sol Nascente, é comum ver, principalmente quando chove, buracos que se transformam em poças de água suja. A costureira Andréia de Sá é uma das vítimas das obras paradas.

Moradora do setor há dois anos, ela passou a ter problemas de pele depois que se mudou. “É muito comum aqui dar frieira e bicho-de-pé. Tem gente que anda com sacolas nos pés para se proteger.”

O diretor de Engenharia e Meio Ambiente da Companhia de Saneamento Ambiental do DF (Caesb), Cristiano Magalhães, nega a paralisação das obras. 


“Não temos obras paradas, mas empreendimentos que não concluímos a licitação. Já fizemos um pregão para a compra de material e agora estamos finalizando as licitações”, explica.

Ranking da vergonha
Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) de 2008, 891 milhões de pessoas espalhadas em 10 países não possuem vasos sanitários em suas residências. O Brasil ocupa o nono lugar nessa lista:

País - Pessoas sem vaso sanitário em casa
1º Índia - 638 milhões
2º Indonésia - 58 milhões
3º China - 50 milhões
4º Etiópia - 49 milhões
5º Paquistão - 48 milhões
6º Nigéria - 33 milhões
7º Sudão - 17 milhões
8º Nepal - 15 milhões
9º Brasil - 13 milhões
10º Niger - 12 milhões

Fonte: Instituto Trata Brasil/OMS e Unicef